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Alta no preço e no volume de importações de fertilizantes pressiona custos da safra em Mato Grosso

19 de ago. de 2025google
Fertilizantes e safra 2025/26 em Mato Grosso

Alta no preço e no volume de importações de fertilizantes pressiona custos da safra em Mato Grosso

O aumento simultâneo do volume importado e dos preços dos fertilizantes ao longo de 2025 tem estreitado margens e forçado decisões técnicas e comerciais entre os produtores do estado mais agrícola do país. Dados oficiais compilados e análises de mercado mostram que, apesar do recorde de oferta, o custo de insumos segue em aceleração — um nó que atinge cadeias como soja e milho e, por sua vez, a economia regional onde municípios como Alta Floresta concentram produção e pecuária.

Segundo o Ministério da Indústria e Comércio Exterior (MDIC), o Brasil importou 24,2 milhões de toneladas de fertilizantes entre janeiro e julho de 2025, volume 8,8% superior ao mesmo período de 2024 e ligeiramente acima do recorde anterior de 2022. A consultoria Datagro, citada nos boletins de comércio, registra também mudança no padrão de fornecimento: a Rússia liderou as remessas ao país no acumulado do ano (6,88 milhões de toneladas, 28,2%), seguida pela China (5,14 milhões, 21,2%) e pelo Canadá (3,1 milhões, 12,8%). No mesmo relatório constam os principais portos de entrada, com Paranaguá respondendo por cerca de 26,2% do total, seguido por Santos, Rio Grande, São Luís e Salvador.

Apesar do aumento de volume, o gasto com fertilizantes subiu: entre janeiro e julho o Brasil desembolsou US$ 8,8 bilhões, um aumento de 16% frente a 2024, conforme os dados compilados pelo MDIC e divulgados por veículos do setor. A consultoria Datagro alerta que o segundo semestre tende a manter ritmo aquecido, o que amplia a pressão sobre preços internos quando a demanda por reposição se intensifica.

Complementando a leitura sobre preços, o relatório semanal da StoneX indica forte alta nas cotações no ano: a ureia registrou valorização próxima a 33% entre janeiro e meados de agosto; o MAP — fertilizante fosfatado muito usado no país — subiu cerca de 19%; e o cloreto de potássio (KCl) cresceu em torno de 20% nos portos brasileiros. Em termos CIF, a Datagro apontou em julho valores médios do composto NP em US$ 570,87 por tonelada e ureia a US$ 427,37/tonelada, com aumentos mensais e anuais expressivos para itens-chave como MAP e KCl.

Para produtores de Mato Grosso, esse cenário traduz-se em escolhas difíceis. Tomás Pernías, analista de Inteligência de Mercado citado por reportagem do setor, destaca que a relação de troca entre soja e MAP alcançou níveis desfavoráveis, desestimulando o consumo do fosfatado. Em outras palavras, a soja — que responde por parcela relevante da renda agrícola estadual — paga cada vez menos fertilizante quando comparada ao preço do insumo, reduzindo a atratividade financeira de aplicar os doses recomendadas.

O reflexo prático tem sido observado no comportamento de compra e nas recomendações técnicas: importadores e agentes de mercado, segundo a Datagro, optaram por antecipar aquisições para mitigar o risco de desabastecimento associado a tensões geopolíticas (como conflito no Oriente Médio e restrições chinesas às exportações) e a medidas tarifárias em mercados como o dos EUA. Ao mesmo tempo, analistas e operadores relatam busca por alternativas — entre os nitrogenados cresce o interesse pelo sulfato de amônio; entre os fosfatados, TSP e SSP aparecem como substitutos pontuais do MAP — medidas que procuram reduzir custo por tonelada, ainda que nem sempre reproduzam os mesmos efeitos agronômicos.

Esse conjunto de dinâmicas encontra um contexto local sensível em Mato Grosso. O Instituto de Defesa Agropecuária do Estado (Indea) registrou rebanho bovino de mais de 32 milhões de cabeças, com Alta Floresta concentrando 675.385 bovinos — número que ilustra a importância da pecuária na economia regional e a interdependência entre sistemas agrícolas e de formação de pastagens, receita e consumo de insumos no mercado local.

Embora as reportagens e boletins consultados foquem principalmente em soja e milho quando tratam de adubação e relação de troca, a presença de um rebanho tão significativo indica que qualquer ajuste de insumos em grandes lavouras pode repercutir no custo de produção de alimentos e volumetria de insumos na cadeia que atende pastagens e suplementação animal, especialmente em municípios com atividade agropecuária integrada como Alta Floresta.

Entre as práticas adotadas para sobreviver ao aperto, os textos do setor mencionam medidas factíveis e já em curso no mercado: antecipação de compras para garantir fornecimento e travar preços, diversificação de fornecedores diante da dependência de poucos exportadores, e ajustes técnicos nas propriedades — uso de substitutos quando possível, manejo de solo e práticas de eficiência de adubação que reduzam doses sem comprometer rendimento. A Datagro e analistas do setor também alertam para o efeito das condições de crédito mais onerosas em 2025, que elevam o custo financeiro da safra e podem postergar decisões de investimento.

O balanço que emerge das fontes consultadas é de um mercado com oferta física elevada, mas com custos e riscos que aumentam a incerteza sobre a rentabilidade da safra 2025/26. Para Mato Grosso, onde a agricultura e a pecuária exercem papel central na economia regional, a combinação de preços mais altos, relações de troca desfavoráveis e crédito mais caro obriga produtores e agentes comerciais a replanejarem compras, técnicas e fluxos de caixa — decisões que, segundo Datagro e StoneX, definirão em grande parte o nível de aplicação de insumos e, por conseguinte, os indicadores de produtividade e de comercialização nos próximos meses.

Fontes consultadas: Ministério da Indústria e Comércio Exterior (MDIC); consultoria Datagro; relatório semanal da StoneX; declaração de Tomás Pernías, analista de Inteligência de Mercado; Instituto de Defesa Agropecuária do Estado (Indea).