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Brechós em alta: como moda circular responde ao volume crescente de resíduos têxteis

21 de ago. de 2025google
Moda circular e a ascensão dos brechós

Brechós em alta: como moda circular responde ao volume crescente de resíduos têxteis

O setor da moda enfrenta um desafio ambiental de grande escala: um relatório da Global Fashion Agenda aponta que mais de 92 milhões de toneladas de resíduos têxteis foram descartadas globalmente nos últimos anos, com projeção de aumento superior a 60% na próxima década. No Brasil, um levantamento da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais estima que o país registra cerca de 4 milhões de toneladas de resíduos têxteis — um reflexo do ritmo acelerado imposto pela fast fashion.

Peças que demoram séculos para se decompor e fluxos de descarte que incluem até despejos ilegais, como o caso do chamado “Lixão do Atacama” — que recebe cerca de 39 mil toneladas de roupas por ano, segundo reportagens citadas — colocam em evidência a urgência de alternativas ao modelo linear de produção e consumo.

Nesse cenário, brechós, bazares e práticas de reutilização vêm se consolidando como respostas práticas e econômicas à crise dos resíduos. Reportagens locais e perfis de consumidores mostram que esses pontos atendem a demandas simultâneas por preço, qualidade e singularidade: clientes relatam encontrar tecidos melhores e peças únicas por valores inferiores aos da fast fashion, e bazares beneficentes ainda direcionam receitas a causas sociais, como descreveu uma frequentadora dos eventos, Letícia Oliveira, citando o exemplo do Bazar Late & Mia que apoia uma ONG local.

Além da revenda, há um movimento crescente de produção autoral e upcycling. Profissionais que transformam roupas usadas em novas peças — como Gabriela Alves e Rayssa Amorim, mencionadas em relatos sobre a prática — descrevem no upcycling uma forma de agregar valor afetivo e estético a peças que, de outra forma, poderiam ser descartadas. Essas iniciativas, segundo as entrevistadas, também mudaram sua percepção sobre o valor do trabalho têxtil e sobre os custos humanos por trás de roupas produzidas em larga escala.

O fenômeno não se limita ao físico: bazares e brechós ampliaram sua presença no ambiente digital, com vendas e indicações circulando em redes e marketplaces, conforme a cobertura sobre moda circular. Consumidores que começaram a "garimpar" passaram a divulgar achados em redes sociais, ajudando a desmistificar preconceitos antigos contra roupas de segunda mão — crenças sobre baixa qualidade ou supostas "energias negativas" são citadas por quem frequenta esses espaços como barreiras culturais que vão sendo vencidas com informação e visibilidade.

Na outra ponta, marcas de moda autoral e pequenas grifes que apostam em produção consciente aparecem como alternativas complementares: coleções em edições limitadas, ênfase em materiais de melhor qualidade e processos artesanais oferecem ao consumidor opções além da compra de peças novas em massa. Essa tendência foi destacada em perfis sobre marcas autorais que enfatizam produção responsável e peças atemporais como resposta ao ritmo da moda rápida.

O conjunto de relatos e dados desenha uma mudança de comportamento que é ao mesmo tempo econômica e simbólica: o consumo passa a valorizar singularidade, durabilidade e impacto social. Brechós e bazares contribuem diretamente para reduzir o fluxo de descarte ao oferecer novas vidas às peças; o upcycling amplia essa lógica ao transformar o que já existe em produtos com valor renovado; e bazares beneficentes ainda convertem vendas em recursos para causas locais.

Os relatos colhidos nas reportagens mostram também desafios concretos: o estigma cultural em relação a roupas usadas, a necessidade de paciência e tempo para “garimpar” boas peças, e a logística de atuação em plataformas digitais que exige adaptação de vendedores e consumidores. Ao mesmo tempo, as experiências de frequentadores e produtores indicam que a combinação de preço justo, qualidade percebida e narrativa de sustentabilidade tem sido decisiva para atrair públicos diversos.

Em suma, enquanto os números do descarte têxtil escancaram a dimensão do problema, brechós, bazares e práticas como o upcycling surgem, nas coberturas locais e nos relatos citados, como estratégias concretas de mitigação: menos espaço nas bolsas de lixo e mais espaço para consumo consciente, criatividade e financiamento de causas sociais, segundo as fontes consultadas.