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Comércio em Nova Friburgo mostra faces opostas: doações recordes e investigação por agiotagem

19 de ago. de 2025google
Comércio em Nova Friburgo: doações e investigação

Comércio em Nova Friburgo mostra faces opostas: doações recordes e investigação por agiotagem

Em Nova Friburgo, o setor do comércio aparece de forma evidente tanto como ator de solidariedade quanto como alvo de investigações por práticas ilegais. Na tarde de 15 de agosto, o Sindicato do Comércio Varejista (Sincomércio) e o Sesc RJ entregaram sete toneladas de alimentos não perecíveis arrecadadas durante o 23º Festival Sesc de Inverno ao programa Mesa Brasil Sesc RJ, que redistribui insumos a instituições socioassistenciais do estado.

Segundo informações do Sesc RJ e do próprio Mesa Brasil citadas pela ação de distribuição, as doações foram coletadas no Nova Friburgo Country Clube durante os finais de semana dos principais shows do festival (realizado entre 11 e 27 de julho). O presidente do Sincomércio, Braulio Rezende, que acompanhou a entrega junto com o vice-presidente Theóphilo Rodrigues Pinto Neto, comemorou o que classificou como recorde de arrecadação no estado e destacou a generosidade da população local. Em declarações à distribuição, Rezende lembrou que, anteriormente durante o mesmo festival, Nova Friburgo já havia somado quase seis toneladas destinadas ao Mesa Brasil.

O programa Mesa Brasil Sesc RJ, que existe desde 2000, foi mencionado como coordenador da logística: o programa recolhe alimentos não perecíveis e in natura de cerca de 200 parceiros e os reverte para mais de 1.300 instituições no estado do Rio de Janeiro, além de orientar as entidades beneficiadas sobre aproveitamento integral dos alimentos.

As instituições friburguenses contempladas com a entrega recente incluem a Associação Pestalozzi de Nova Friburgo, Casa dos Pobres São Vicente de Paulo, Instituição das Obras Sociais Madre Roselli, Associação de Pais e Amigos do Excepcional (Apae), Humédica Brasil, Lar Abrigo Amor a Jesus (Laje), Centro Social Nossa Senhora das Graças, Catedral São João Batista, Associação Bodas de Caná e Legião da Boa Vontade (LBV).

Nem sempre, porém, as iniciativas ligadas ao comércio local têm caráter assistencial. Na manhã de 15 de agosto, o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ) deflagrou uma operação em Nova Friburgo para cumprir mandados de prisão e busca e apreensão contra três pessoas denunciadas por participação em uma rede de agiotagem e extorsão. O MPRJ aponta como alvos Luiz Alexandre Silva, conhecido como Tenório; Flávia Ouverney Canela; e Emile Canela.

Conforme relato do Ministério Público, o grupo — cuja liderança é atribuída a Tenório, ex-policial militar — cobrava empréstimos ilegais com juros que poderiam chegar a 20% ao mês e empregava práticas de intimidação, entre elas agressões físicas, ameaças de morte e uso de armas de fogo. As investigações indicam que as atividades de captação e cobrança teriam sido feitas a partir de um estabelecimento onde eram comercializadas cestas básicas e veículos usados, e que nos fundos funcionaria o esquema de empréstimos irregulares.

O MPRJ informou ainda que foram apreendidos, entre outros bens, um porrete com a inscrição "Direitos Humanos" e veículos que, segundo a investigação, poderiam ter origem em dívidas não pagas. A denúncia formal apresentada pelo Ministério Público inclui os crimes de associação criminosa, roubo e extorsão; o órgão também declarou a continuidade das apurações para identificar outras possíveis vítimas e integrantes do suposto grupo.

As duas ocorrências — a entrega organizada pelo Sincomércio em parceria com o Sesc RJ e a operação do MPRJ — colocam em evidência dimensões distintas do papel do comércio em Nova Friburgo: de um lado, estabelecimentos e entidades que se articulam para reforçar a segurança alimentar por meio do Mesa Brasil; do outro, investigações sobre práticas econômicas ilícitas que, segundo o Ministério Público, explorariam financeiramente pessoas em situação de vulnerabilidade.

As informações sobre a entrega de alimentos foram prestadas pelo Sesc RJ e pelo Sincomércio, com dados do Mesa Brasil; as acusações e medidas judiciais foram comunicadas pelo Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro, que segue com as investigações.