Crescimento e capacitação impulsionam competitividade das padarias brasileiras
O setor de panificação no Brasil tem mostrado sinais claros de expansão e, ao mesmo tempo, vem sendo alvo de ações de qualificação que buscam transformar esse crescimento em maior competitividade para micro e pequenas padarias. Segundo dados do Sebrae Bahia, a indústria de panificação movimentou R$ 153,3 bilhões em 2024 e emprega mais de 900 mil pessoas — números que colocam o segmento entre os mais representativos da cadeia de alimentos.
Além do porte econômico, o mercado também tem registrado aumento no número de empresas: o Sebrae Bahia aponta crescimento de 17,3% no número de estabelecimentos de panificação em 2024. Essa expansão reflete não só a demanda cotidiana por produtos tradicionais, como o pão francês, mas também a diversificação de ofertas e a profissionalização de operações menores.
Na prática, iniciativas de promoção e capacitação têm servido como instrumentos para converter presença no mercado em lucratividade. Um exemplo é o Concurso Melhor Pão Francês da Bahia, promovido pelo Sebrae Bahia durante a feira INDEX, que em sua 2ª edição recebeu 1.250 inscrições de 87 municípios. A competição usa como referência a norma ABNT NBR 16.170 para avaliar crosta, miolo, sabor e textura — um mecanismo que estimula padronização e eleva critérios técnicos do produto, além de servir como vitrine e ação de marketing para padarias vencedoras.
Organizadores e parceiros do concurso — entre eles o Sindicato da Indústria de Panificação e Confeitaria do Estado da Bahia (SIPACEB), o Sindicato dos Trabalhadores da Indústria de Panificação e Confeitaria da Bahia (SINDPAD) e empresas do setor como Adinor, Bunge, J. Macêdo e Prática — destacam que a iniciativa não se limita ao prêmio: o objetivo declarado é ampliar a clientela, incentivar melhorias na gestão de mão de obra, treinar equipes e promover a padronização do produto, pontos que influenciam diretamente a fidelização e a lucratividade.
No campo da capacitação, o Sebrae-SP tem oferecido cursos voltados ao dia a dia das micro e pequenas empresas do setor de alimentação. O curso gratuito "Lucro na Cozinha", com turmas on-line previstas para 25 a 27 de agosto, traz orientações práticas sobre gestão financeira, controle de custos, elaboração de fichas técnicas, precificação e construção de cardápios mais rentáveis, além de consultoria de marketing personalizada. Segundo Marcio Barbosa, gestor regional de alimentação fora do lar no Alto Tietê, a formação busca dar ferramentas para que empresários enfrentem desafios como a variação nos preços dos insumos e mantenham margens saudáveis.
Essas ações de qualificação dialogam com uma demanda real da cadeia produtiva. O próprio Sebrae Bahia lembra que o pão e outros produtos de padaria mobilizam diversas etapas da cadeia, do campo ao comércio e à indústria, impulsionando demanda por grãos, moagem, ingredientes regionais e serviços especializados. Exemplos práticos aparecem em reportagens de mercado: padarias independentes têm investido em moagem própria e na compra direta de grãos de origem — caso de uma padaria de São Paulo que compra trigo, centeio e trigo-sarraceno de um fornecedor no Rio Grande do Sul e faz a moagem no próprio estabelecimento — estratégia que pode reduzir custos, aumentar controle de qualidade e diferenciar o produto final.
Ao mesmo tempo, o setor convive com desafios relativos à ocupação e ao custo do trabalho. Em São Paulo, o Sindicato dos Padeiros abriu a campanha salarial 2025 para a categoria e convocou assembleias para discutir pauta de reivindicações, lembrando que negociações salariais e condições de trabalho também impactam a competitividade e a estrutura de custos das padarias.
No contexto mais amplo da alimentação, dados da Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (ABIA) mostram que o setor teve crescimento de 9,98% no faturamento em 2024, atingindo R$ 1,277 trilhão — um indicador de que o ambiente econômico da alimentação tem puxado movimentação positiva que também beneficia empreendimentos de panificação, majoritariamente micro e pequenas empresas.
Conectar essas frentes — eventos de valorização do produto, cursos práticos de gestão e parcerias com fornecedores — aparece como caminho para transformar o crescimento numérico do setor em sustentabilidade empresarial. Concursos e feiras colocam produtos locais na vitrine; normas técnicas, como a ABNT NBR 16.170, amparam a qualidade; e cursos como o "Lucro na Cozinha" oferecem ferramentas imediatas para proteger margens e profissionalizar a operação.
Especialistas e agentes do setor têm defendido justamente essa combinação: inovação de produto e aperfeiçoamento de gestão. O resultado desejado é duplo: maior competitividade das padarias pequenas e micro, e fortalecimento das cadeias regionais de insumos — beneficiando agricultores, moinhos e fornecedores que abastecem a panificação. Em um setor que movimenta bilhões e emprega centenas de milhares, a convergência entre promoção, técnica e gestão é apontada pelas próprias iniciativas levantadas aqui como fator-chave para converter demanda em negócio rentável e sustentável.