Loqal

Feiras e eventos impulsionam economia de Feira de Santana e atraem investimentos, mas desafio é integrar infraestrutura e pequenos negócios

19 de ago. de 2025google
Feiras e eventos como motor econômico de Feira de Santana

Feiras e eventos como motor econômico de Feira de Santana

Feira de Santana tem apostado em grandes eventos para transformar o calendário em um motor de geração de negócios, emprego e atração de investimentos. A prova está em números e em parcerias formais: a Expofeira, a INDEX Bahia e a Feira de Santana Beauty reúnem público expressivo, cadeias de serviços e apoio de entidades públicas e privadas — elementos que ajudam a consolidar a cidade como polo de eventos no Norte/Nordeste.

A 45ª Expofeira, realizada em 2024, atraiu 250 mil visitantes e movimentou mais de R$ 17 milhões em negócios, segundo dados da prefeitura divulgados à imprensa. Para 2025, a organização projeta crescimento: a 46ª edição espera 400 mil visitantes entre 7 e 14 de setembro, com estrutura ampliada no Parque de Exposições — pavimentação, aumento do estacionamento para 3 mil vagas e uma linha especial de transporte, o Expresso Expofeira — e parceiros como Senar, Sebrae, Sesi, Senai, sindicato e cooperativas. A edição de 2025 já confirma mais de 500 expositores, entre 300 criadores e 200 comerciantes, o que evidencia o papel da feira em movimentar tanto a cadeia produtiva agropecuária quanto a economia de serviços locais.

No segmento industrial, a INDEX Bahia 2025 chega com ambição similar. Lançada na sede da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (FIEB), a feira foi apresentada com dados que mostram o peso da indústria baiana: 25% do PIB estadual, mais de 22 mil estabelecimentos, cerca de 463 mil empregos diretos e um movimento anual de aproximadamente R$ 76,5 bilhões, conforme números apresentados pelos organizadores e pela FIEB. A programação da INDEX inclui rodadas de negócios nacionais e internacionais, linhas de crédito, missões empresariais e oficinas técnicas — mecanismos apontados pelos organizadores como instrumentos diretos para converter visibilidade em negócios. O Sebrae Bahia destacou que 60% dos expositores são micro e pequenas empresas, o que transforma a feira numa vitrine para os negócios de menor porte e em um ponto de acesso a mercados e financiamentos.

A terceira edição da Feira de Santana Beauty (FSB), evento do setor de beleza e cosméticos realizado no Centro de Convenções, mostra outra face do ecossistema de feiras: nichos especializados que atraem profissionais de diversos estados e criam fluxo de compras e formação técnica. A organização, a Dreams Eventos, informou que a edição de 2024 recebeu mais de 4.500 visitantes e movimentou cerca de R$ 5 milhões; a expectativa para 2025 é superar 5 mil visitantes. A FSB conta com apoio institucional do Banco do Nordeste, da Prefeitura Municipal e do Governo do Estado, por meio da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, reforçando a combinação público‑privada que viabiliza encontros desse porte.

O conjunto desses eventos gera empregos diretos e indiretos: além dos expositores, movimentam serviços de montagem de estandes, logística, transporte, alimentação, hospedagem, segurança e tecnologia. A Expofeira e a FSB exemplificam como a edição de um evento amplia temporariamente a demanda por mão de obra local e pela rede de fornecedores. A INDEX, por sua vez, cria oportunidades estruturais ao articular linhas de crédito e rodadas de negócios que podem resultar em contratos de médio e longo prazo.

Para micro e pequenas empresas, as feiras representam portas de entrada. O Sebrae e programas como o CrediAfro têm atuado para facilitar o acesso ao crédito e à capacitação: uma oficina do CrediAfro em Feira de Santana, organizada com apoio da Associação Comercial, destacou orientações para que empreendedores negros desburocratizem pedidos de financiamento e melhorem a gestão dos recursos — elementos importantes para que negócios locais convertam exposição em crescimento. Casos locais de sucesso revelam esse potencial: a Brigadeiria Belga, confeitaria fundada em Feira de Santana, usou a visibilidade regional para projetar expansão, anunciando investimento estimado em R$ 4 milhões e expectativa de 60 empregos diretos em nova loja na capital — movimento relatado pela imprensa local como exemplo de escala a partir de um negócio regional.

Esses ganhos, porém, não são automáticos nem isentos de tensão. A ampliação da oferta de infraestrutura para eventos convive com obras urbanas que podem afetar pequenos comerciantes. Reportagem sobre obras de duplicação do Anel de Contorno relatou relatos de comerciantes notificados a desocupar áreas sem indenização, conforme notificação do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), que justificou urgência pela interferência direta no projeto viário. O episódio evidencia um ponto crítico: a consolidação de Feira de Santana como polo de eventos depende também de planejamento urbano coordenado para evitar que intervenções de grande porte desloquem a base comercial que sustenta parte da cadeia de valor.

Em resumo, os números e programas apresentados pelas instituições que organizam e apoiam os eventos — a Prefeitura de Feira de Santana, a FIEB, o Sebrae Bahia, o Banco do Nordeste, o Sistema CNA/Senar e outras entidades setoriais — mostram um ecossistema em formação, com capacidade de atrair público e negócios. A consolidação do município como polo regional exigirá, porém, manutenção de parcerias público‑privadas, ampliação de linhas de crédito e capacitação para micro e pequenas empresas, além de sintonia entre obras de infraestrutura e a proteção do tecido comercial local. Só assim eventos como Expofeira, INDEX e FSB poderão transformar fluxo temporário em desenvolvimento permanente.