Loqal

Feiras e rodas de samba movimentam o comércio do litoral paulista e geram renda para microempreendedores

19 de ago. de 2025google
Economia criativa e eventos em São Vicente

Feiras e rodas de samba movimentam o comércio do litoral paulista e geram renda para microempreendedores

Projetos como Quintal dos Prettos e o Mercado Místico chegam ao litoral, criam vagas temporárias e ampliam visibilidade para negócios locais

Eventos culturais de pequeno e médio porte têm se mostrado vetores importantes para a economia local no litoral de São Paulo, segundo organizadores e agentes culturais citados nas coberturas sobre as novas edições dessas atrações. O Quintal dos Prettos, que promove rodas de samba mensais em São Paulo há sete anos e já reuniu mais de 200 mil pessoas em suas edições, realizou em agosto sua primeira edição no município de São Vicente. A iniciativa combina apresentação musical com uma Feira de Empreendedores que, conforme os organizadores, gera mais de 60 empregos diretos por edição e dá espaço a marcas periféricas, com destaque para negócios liderados por mulheres e pessoas negras.

Na prática, esse formato reúne duas fontes de renda: a receita direta com ingressos e a comercialização nas bancas e estandes; e um efeito de visibilidade que torna micro e pequenos empreendedores conhecidos fora de seus territórios habituais. Os idealizadores do Quintal destacam, além do aspecto musical, o papel social do projeto: "O Quintal é o nosso quilombo urbano. Cada edição é um ato de afeto, de memória e de celebração da nossa cultura", afirmam os organizadores, que também relatam forte presença digital do projeto — com milhões de visualizações em plataformas — fator que amplia o alcance dos expositores.

Um exemplo de outro recorte da economia criativa é o Mercado Místico, realizado em Santos e com mais de 50 expositores cadastrados para a edição de agosto. O evento reúne oráculos, produtos esotéricos, peças de artesanato e itens de autocuidado, além de uma programação de palestras e vivências. O organizador Márcio Carneiro disse observar uma demanda consolidada no litoral e justificou a transformação do encontro em uma edição anual para "movimentar a cidade" e promover expositores locais e de outras regiões do Estado.

Esses relatos apontam para um efeito multiplicador que vai além da venda imediata: feiras e rodas atraem público — por vezes de outras cidades — e estimulam consumo em segmentos variados, como gastronomia, comércio de rua e serviços ligados ao evento. Os próprios organizadores usam a expressão "movimentar a cidade" para descrever o impacto econômico local. Em alguns casos, a existência de uma agenda regular, com edições mensais ou anuais fixas, é apresentada como estratégia para manter fluxo de consumidores fora da alta temporada turística.

Apesar desses sinais positivos, a dinâmica do emprego formal na região mostra uma face mais complexa. Dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), citados em reportagem sobre o comércio da Baixada Santista, registraram a criação de 1.189 vagas nas nove cidades da região em junho, com 104 novas vagas no comércio varejista. No entanto, o mesmo levantamento apontou saldos negativos em municípios como Bertioga, São Vicente, Peruíbe e Praia Grande. Esse contraste ressalta que os postos ligados a eventos tendem a ser temporários e que a geração de renda por feiras e festivais complementa — mas não substitui — a necessidade de trabalho formal e qualificado no varejo.

Comerciantes locais entrevistados explicam as dificuldades de suprir demanda com mão de obra qualificada. Donos de lojas e representantes de entidades do setor apontam problemas de comprometimento e formação para funções básicas, o que aumenta a rotatividade e torna mais desafiador transformar o impulso gerado por eventos em contratações permanentes.

No terreno das microempresas e dos ambulantes, porém, as feiras representam oportunidade concreta. A feira atrelada ao Quintal dos Prettos, por exemplo, foi citada como espaço que fortalece marcas periféricas e promove inclusão produtiva — elementos repetidos tanto no relato dos organizadores quanto na forma como expositores eram descritos nas matérias. Já o Mercado Místico exemplifica como nichos específicos (produtos esotéricos, terapias e artesanatos) criam um público próprio, o que diversifica a pauta comercial do litoral e amplia alternativas de renda para pequenos negócios.

Há ainda exemplos de programação cultural voltada a públicos específicos que ajudam a ampliar a frequência de visitantes. Sessões adaptadas de cinema em salas do litoral, por exemplo, mostram que programação inclusiva e segmentada — com entrada gratuita em alguns casos — pode atrair público em dias fora do pico turístico e integrar atividades culturais ao cotidiano comercial das cidades.

Em resumo, as feiras culturais e rodas de samba no litoral paulista atuam como multiplicadoras de renda e visibilidade para microempreendedores locais, especialmente mulheres e pessoas negras nas bancas e estandes, e geram empregos temporários ligados à montagem e operação dos eventos. Organizadores e parceiros veem na regularidade de edições uma estratégia para reduzir a sazonalidade do consumo. Ao mesmo tempo, dados de emprego formal e relatos de comerciantes mostram que esse ganho não neutraliza, por si só, problemas estruturais do mercado de trabalho local — a transformação desses impulsos culturais em emprego estável exige políticas e iniciativas complementares, formação e articulação com o comércio estabelecido.

Fontes citadas na reportagem: organizadores do Quintal dos Prettos, Márcio Carneiro (organizador do Mercado Místico), dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) e entrevistas e relatos de comerciantes da Baixada Santista mencionados em reportagens locais.