Nova Indústria Brasil pode abrir espaços para fornecedores e agroindústria de Arapiraca, mas exige projetos robustos
Chamada de até R$ 10 bilhões prioriza energias renováveis, bioeconomia e descarbonização; SENAI e bancos prometem apoio, mas barreiras locais seguem.
A Chamada Pública vinculada à iniciativa Nova Indústria Brasil (NIB) coloca até R$ 10 bilhões em recursos voltados ao Nordeste e traz, na prática, janelas de oportunidade para a indústria, o comércio atacadista e a agroindústria de Arapiraca — desde que atores locais consigam formular propostas com orçamento mínimo exigido pela seleção.
Segundo a apresentação marcada pela Secretaria de Estado do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Sedics), os recursos contemplam projetos nas áreas de energias renováveis (com foco em armazenamento), bioeconomia (voltada a fármacos) e descarbonização (com foco em hidrogênio verde). A chamada prevê orçamentos superiores a R$ 10 milhões por proposta, e o apoio pode ocorrer via crédito, participação acionária ou recursos não reembolsáveis. As instituições que estarão detalhando condições de participação incluem o BNDES, a Finep, o Banco do Brasil, o Banco do Nordeste e a Caixa Econômica, e o SENAI foi apontado como pronto para apoiar empresas na elaboração e execução de projetos.
Para Arapiraca, cidade com comércio atacadista ativo e forte presença da agricultura familiar na região, a novidade traz dois efeitos potenciais. Primeiro, projetos industriais voltados à bioeconomia e ao processamento podem criar demanda por insumos locais — frutas, tubérculos e matérias-primas agroindustriais já mostraram capacidade de oferta em circuitos de feiras estaduais. Segundo, investimentos em energias renováveis e descarbonização podem ampliar a oferta de serviços e insumos de logística e manutenção, criando fluxo para atacadistas e prestadores locais.
O Circuito Regional de Feiras da Agricultura Familiar e Economia Solidária, promovido pelo Governo de Alagoas com apoio de órgãos como a Emater/AL, Adeal e Iteral e com participação do Sebrae, mostra que há canais estabelecidos para escoamento e conexão entre produtores familiares e compradores (hotéis, bares, restaurantes e comércio). Essas feiras já são usadas como estratégia para ampliar vendas diretas e podem funcionar como vitrines para fornecedores que visem participar de cadeias mais complexas fomentadas pela NIB.
Ao mesmo tempo, a dimensão mínima das propostas e os critérios de elegibilidade representam um desafio real. A exigência de orçamentos acima de R$ 10 milhões tende a afastar iniciativas isoladas de pequenos produtores ou microempresas; isso torna necessário que empresas locais, cooperativas e atacadistas pensem em parcerias, consórcios ou em apoio técnico de entidades como o SENAI e o Sebrae para estruturar projetos com escala e capacidade técnica exigida pelos financiadores mencionados na chamada.
O encontro em Maceió anunciado pela Sedics — que reunirá representantes do BNDES, da Finep, de bancos públicos e da Sudene — será uma oportunidade explícita para esclarecer critérios de elegibilidade, prazos e modalidades de apoio. A data do evento e os representantes listados indicam que haverá canais diretos para que empresários, técnicos e instituições locais entendam alternativas de crédito, participação acionária e recursos não reembolsáveis.
Além da necessidade de organizar projetos financeiramente robustos, Arapiraca enfrenta desafios estruturais e institucionais que podem limitar a absorção rápida de recursos. Operações fiscais recentes no município mostram que a fiscalização e o cumprimento tributário são questões a ser consideradas na montagem de projetos e cadeias de fornecimento. Problemas de segurança e de formalidade no comércio de resíduos, evidenciados por ações policiais envolvendo sucatas e materiais furtados, também apontam para riscos na cadeia logística e na confiança entre fornecedores.
Por outro lado, iniciativas locais voltadas à qualificação e modernização do varejo — como o Workshop Novo Varejo realizado em Arapiraca — sinalizam um movimento de fortalecimento da gestão, da liderança e da inovação no comércio regional. Esse tipo de qualificação é complementar ao apoio técnico anunciado pelo SENAI e pode facilitar a articulação entre atacadistas, distribuidoras e produtores familiares para formar cadeias com maior valor agregado.
Em síntese, a Chamada Pública da Nova Indústria Brasil cria um espaço real para que Arapiraca busque integração nas cadeias do Nordeste, com efeito multiplicador sobre fornecedores, atacado, varejo e agricultura familiar. Para que esse potencial se concretize, porém, será preciso que atores locais aproveitem os canais de esclarecimento (bancos e agências presentes na apresentação da chamada), acessem o suporte técnico do SENAI e de instituições como o Sebrae, e consolidem propostas com escala, conformidade fiscal e capacidade operacional suficientes para atender às exigências mínimas da seleção.
O cronograma já divulgado indica prazo de submissão até 15 de setembro e previsão de divulgação dos resultados em 28 de novembro, informação que reforça a urgência na organização de projetos e parcerias em Alagoas.
Fontes citadas na reportagem: Sedics (secretaria estadual do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços), BNDES, Finep, Banco do Brasil, Banco do Nordeste, Caixa Econômica Federal, Sudene, SENAI, Emater/AL, Adeal, Iteral e Sebrae, conforme divulgação das instituições nas matérias consultadas.