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Policiamento, ética e accountability: tenente da Brigada Militar afastado após tentativa de furto em supermercado

21 de ago. de 2025google
Tenente afastado por tentativa de furto levanta questões sobre ética e prestação de contas na Brigada Militar

Policiamento, ética e accountability: tenente da Brigada Militar afastado após tentativa de furto em supermercado

Imagens de câmeras de segurança mostram um homem, identificado pela reportagem como o tenente Robledo de Souza, caminhando por um corredor de supermercado no bairro Sarandi, em Porto Alegre, colocando dois frascos de creme hidratante sob a roupa e deixando o local sem pagar. Segundo a Brigada Militar, a equipe de segurança do estabelecimento abordou o policial no estacionamento; ele voltou ao caixa e realizou o pagamento dos itens.

O episódio ocorreu no dia 5 de agosto e, segundo o Comando de Policiamento da Capital, comandado pelo coronel Fábio da Silva Schmitt, motivou a abertura de investigação. A corporação informou que a apuração tramita tanto na esfera policial quanto na administrativa, "observando-se todos os direitos e garantias legais". Em consequência, o oficial foi afastado das atividades enquanto o caso é apurado.

Em nota, a Brigada Militar reafirmou compromisso com "a transparência, a legalidade e a responsabilidade na condução de todos os procedimentos", e disse adotar "as medidas cabíveis sempre que necessário, sem prejuízo da imagem e da missão constitucional da corporação". A instituição, conforme relatado, não havia divulgado o nome do militar, mas a reportagem apurou sua identidade como o tenente lotado no 11º Batalhão.

Os advogados do tenente, Cristiano Zonta e Alex Ochsendorf, disseram que só irão se manifestar após terem acesso ao inquérito, que tramita sob sigilo, e que ainda não conseguiram ver a íntegra das provas reunidas pela investigação. A defesa, portanto, condiciona suas declarações públicas à análise dos autos.

Do ponto de vista institucional, o caso reúne elementos que a própria Brigada Militar destacou como centrais em sua resposta: investigação pelas instâncias competentes e preservação de garantias processuais. O afastamento administrativo do policial e a abertura de procedimentos em duas esferas — policial e disciplinar — são medidas formais previstas pela corporação no trato de condutas que possam afetar a imagem da instituição.

As imagens registradas pelas câmeras e o relato de que o pagamento foi feito no momento da abordagem pelo segurança do estabelecimento colocam na prática dois eixos distintos de apuração: o fato material (a tentativa de subtração e a quitação posterior dos produtos) e a conduta funcional do militar, que será examinada sob a ótica disciplinar e da legalidade operada pela corporação.

Até o momento, as informações públicas reunidas pela reportagem vêm exclusivamente da Brigada Militar — que comunicou o afastamento e a instauração das apurações — e da defesa dos advogados do oficial, que informou aguardar acesso ao inquérito. Não há, nos documentos e declarações tornados públicos até aqui, desdobramentos criminais formalizados ou decisões disciplinares definitivas divulgadas.

O caso ilustra, no plano prático, desafios recorrentes nas instituições de segurança: conciliar o direito de ampla defesa e o sigilo necessário à investigação com a exigência pública por transparência e responsabilização quando agentes do Estado são envolvidos em condutas potencialmente lesivas à confiança pública. A própria posição oficial da Brigada Militar, ao enfatizar a transparência e a legalidade, indica que a corporação reconhece essa tensão ao conduzir os procedimentos internos.

Seguirão determinantes para o desfecho do processo a tramitação do inquérito, o acesso da defesa às provas, e as conclusões das instâncias administrativas e policiais que apuram o caso — todas etapas mencionadas nas comunicações oficiais registradas até o momento.