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Transparência nos preços do carvão vegetal em Minas vira instrumento para pequenos produtores negociarem com siderúrgicas

19 de ago. de 2025google
Transparência nos preços do carvão vegetal em Minas

Transparência que pretende equilibrar as negociações entre produtores e siderúrgicas

A Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais (Seapa-MG) começou a divulgar, a partir de agosto de 2025, a cotação do carvão vegetal produzido de florestas plantadas de eucalipto por mesorregiões do estado. A medida, implementada em parceria com a Secretaria de Estado da Fazenda (SEF-MG) e a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural de Minas Gerais (Emater-MG), tem como objetivo central, nas palavras da superintendente de Fomento Florestal da Seapa, Taiana Guimarães Arriel, subsidiar o segmento com uma série histórica de preços para contribuir na tomada de decisões e nas negociações do setor, que é formado em mais de 60% por pequenos e médios produtores rurais.

A metodologia informada pela Seapa combina coleta direta na fonte onde são emitidas as notas fiscais, processamento autônomo pela própria secretaria e conferência com levantamentos das unidades regionais da Emater-MG. A publicação será mensal, com divulgação nas redes sociais e no site da Seapa, e abrange as mesorregiões com atividade florestal e produção de carvão vegetal mais expressivas: Central, Jequitinhonha, Metropolitana de Belo Horizonte, Norte de Minas, Centro-Oeste, Zona da Mata e Noroeste.

Os primeiros números consolidados do primeiro semestre de 2025 mostram que a média mensal mais alta foi registrada em janeiro (R$ 375,00 por metro cúbico) e a mais baixa em maio (R$ 360,00/m³). A variação regional no período alcançou extremos: o menor preço apontado foi na Zona da Mata, perto de R$ 300/m³, e o maior nas regiões Metropolitana de Belo Horizonte e Centro-Oeste, próximas de R$ 400/m³ — áreas destacadas pela Seapa como o cinturão siderúrgico do estado, com a maior concentração de empresas do ramo.

Na avaliação da Seapa, esses números ainda estão sujeitos a melhoria conforme novas atualizações e diálogo com os setores envolvidos. A própria secretaria ressalta que a publicação não direciona transações comerciais: conforme o Decreto Estadual nº 49.013/2025, Minas Gerais atua de forma subsidiária e excepcional na regulação de atividades econômicas e não pode interferir diretamente nos preços praticados pelo mercado, em respeito à livre iniciativa e à liberdade econômica. Em outras palavras, a cotação divulgada serve como referência, não como preço obrigatório — e operações pontuais no mercado poderão ocorrer por valores diferentes.

O ganho mais imediato esperado com a série histórica é a redução da assimetria de informação que costuma onerar produtores menores: tendo acesso a médias por mesorregião, pequenos e médios fornecedores podem aferir melhor sua posição relativa, fundamentar pedidos de reajuste e negociar com compradores — inclusive com siderúrgicas localizadas no cinturão produtivo. A Seapa aponta explicitamente que esse é um dos propósitos da divulgação: fortalecer a capacidade de negociação do segmento.

Ao mesmo tempo, a secretaria adverte que não é possível identificar uma tendência única que explique as flutuações mensais: a variação de preços do carvão vegetal resulta de múltiplos fatores. Entre os elementos citados estão os valores pagos pelas siderúrgicas, demandas específicas do mercado, oferta regional e influências externas, como incertezas do setor siderúrgico e especulações sobre exportação de produtos da metalurgia — fatores que ajudam a explicar por que preços são mais elevados nas regiões com maior concentração de indústrias consumidoras.

Para os produtores, a consolidação mensal de dados por mesorregião significa, portanto, uma ferramenta de referência técnica. Para as siderúrgicas e demais compradores, a transparência aumenta a previsibilidade das negociações e pode pressionar por maior clareza nas propostas comerciais. A eficácia desse instrumento, porém, dependerá da adoção recorrente das cotações por agentes do mercado e do aprofundamento das séries históricas, que ganham valor com o tempo e com comparações regionalizadas.

Em síntese, a divulgação da Seapa-MG, em parceria com SEF-MG e Emater-MG, cria uma base pública de preços que pode melhorar a posição de pequenos e médios produtores nas negociações com as siderúrgicas do cinturão mineiro, sem, contudo, transferir à Secretaria a responsabilidade por regular ou fixar os valores praticados pelo mercado, conforme o estabelecido pelo Decreto Estadual nº 49.013/2025.