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Pequenos comerciantes de Feira de Santana ameaçados por remoções do Anel de Contorno sem indenização

19 de ago. de 2025google
Comerciantes em risco por obras do Anel de Contorno em Feira de Santana

Pequenos comerciantes de Feira de Santana ameaçados por remoções do Anel de Contorno sem indenização

Comerciantes próximos à Avenida Eduardo Fróes da Mota, em Feira de Santana, relatam apreensão diante de ordens administrativas do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) que exigem a desocupação de três estabelecimentos no entorno das obras de duplicação do Anel de Contorno. Segundo relatos ao Acorda Cidade, o prazo dado foi de 30 dias e, conforme informado pelo próprio órgão, não há processo de desapropriação — por isso, não haverá indenização.

O proprietário de um dos pontos afetados, identificado como Thiago Silva de Carvalho, afirmou ao Acorda Cidade que o estabelecimento funciona no local há mais de 30 anos e é um negócio de família que emprega quatro pessoas. "O Dnit chegou aqui informando que a gente só tinha 30 dias [...] e disse que não tem indenização, não tem outro local", relatou Thiago, destacando a dificuldade de realocar o comércio e o impacto na renda da família e dos funcionários.

Outro comerciante, Anderson Carvalho, que abriu um restaurante em 2010 e emprega cinco pessoas, disse ao mesmo veículo que deve encerrar as atividades em razão da notificação: "Ainda não tenho para onde ir [...] vamos entrar em um acordo [com os funcionários] e, depois desse acordo, aí cada um vai seguir a sua jornada". Ambos apontam a falta de alternativas próximas para transferência dos estabelecimentos.

Em nota ao Acorda Cidade, o DNIT afirmou que a liberação do local é urgente porque a área "influencia diretamente o projeto de duplicação". A autarquia acrescentou que pedidos de dilação de prazo protocolados foram analisados e concedidos, mas que, por razão técnica do projeto, a saída dos comerciantes será necessária. O órgão reiterou que não existe processo de desapropriação, razão pela qual não há indenização.

Na esfera jurídica, o advogado que representa Thiago, Pedro Galvão, informou ao Acorda Cidade que já ingressou com uma liminar na Justiça e aguarda uma mediação com o DNIT. Segundo ele, a estratégia é conseguir a ampliação do prazo para que os comerciantes tenham tempo de se realocar e reorganizar suas vidas e do quadro de funcionários — muitos com carteira assinada. Galvão também mencionou a intenção de recorrer com agravo para impedir o cumprimento da remoção até que o caso seja reavaliado.

O episódio evidencia um conflito recorrente entre obras de infraestrutura de âmbito federal e a vulnerabilidade de pequenos empreendimentos locais: de um lado, a necessidade técnica do DNIT para avanço do projeto de duplicação; do outro, comerciantes que alegam falta de aviso prévio em prazo razoável, impossibilidade prática de mudança e ausência de mecanismos de reparação financeira por não haver desapropriação.

As consequências socioeconômicas descritas por quem será afetado são imediatas e concretas: risco de encerramento de negócios com décadas de atividade, redução de renda familiar, perda de postos de trabalho formais e dificuldade de encontrar ponto alternativo nas imediações. No âmbito jurídico, a disputa depende agora da tramitação da liminar e de eventuais decisões que possam conceder dilação de prazo ou determinar medidas de compensação ou acomodação temporária, conforme apurado pelo Acorda Cidade.

Enquanto isso, comerciantes e seus representantes aguardam o posicionamento do Judiciário e a abertura de diálogo com a superintendência do DNIT para tentar mitigar o impacto social e econômico da retirada forçada. O caso coloca em evidência a necessidade de conciliação entre planejamento de obras e proteção a empreendimentos tradicionais que sustentam famílias e empregos locais, conforme narrado às equipes de reportagem que cobriram a situação.