Operação da Polícia Civil do Paraná que atingiu Fortaleza expõe alcance do golpe do falso consórcio e risco à confiança do comércio cearense
Uma operação deflagrada pela Polícia Civil do Paraná (PCPR) cumpriu, na manhã de quarta-feira (13), 45 ordens judiciais contra um grupo investigado pelo chamado golpe do falso consórcio, em uma mobilização que alcançou, entre outros locais, Fortaleza e Eusébio. Segundo a PCPR, a ação — terceira fase da investigação iniciada em janeiro de 2023 — teve como objetivo desarticular o braço financeiro do esquema e incluiu 12 mandados de prisão e 33 de busca e apreensão com apoio de polícias civis de vários estados.
A investigação da PCPR aponta que o grupo teria movimentado cerca de R$ 500 milhões em transações suspeitas e atuado por meio de call centers clandestinos, empresas de fachada, sistemas digitais e grupos de mensagens. As vítimas eram abordadas em redes sociais e convidadas a comparecer a escritórios para assinatura de contratos e realização de pagamentos visando a aquisição de imóveis ou veículos; muitas vezes, não houve entrega dos bens prometidos. Como descreveu o delegado Tiago Dantas, que conduz o inquérito, "em algumas situações, a assinatura e os repasses eram intermediados por funcionários treinados que atuavam sob rigorosa orientação, com metas de captação de novos clientes e comissionamentos que giravam em torno de 1% dos valores das operações".
O mecanismo detalhado pela PCPR — oferta facilitada por redes sociais, atendimento por call center, contratos fraudulentos e empresas de fachada — evidencia um modelo operacional que atinge diretamente consumidores que buscam crédito ou financiamento para bens de alto valor. Por tratar-se de transações que simulam oferta de crédito e consórcio, o esquema tem potencial para abalar a confiança do público em ofertas comerciais feitas por meios digitais e em soluções de financiamento, especialmente quando essas ofertas aparecem sem clareza sobre a origem das empresas ou garantias contratuais.
Para o mercado local de Fortaleza e para empresas do setor de comércio e serviços financeiros, a investigação traz duas consequências imediatas apontadas pela apuração da PCPR: primeiro, o reconhecimento de que fraudes complexas podem operar com ramificações interestaduais, exigindo cooperação policial além das fronteiras do estado; segundo, a constatação de que vítimas eram atraídas por promessas de facilidade de aquisição, o que aumenta a vulnerabilidade de consumidores que recorrem a ofertas online e a contatos por telefone.
A própria condução da ação pela PCPR demonstra medidas que as autoridades têm adotado contra esses esquemas: investigação criminal prolongada, cumprimento de mandados judiciais, prisões e apreensões de celulares, computadores e documentos — instrumentos que, conforme a polícia, permitiram identificar líderes e ramificações do grupo. A operação também é desdobramento de fases anteriores, como a deflagrada em março de 2024, quando houve prisões e apreensões que subsidiaram as etapas seguintes do inquérito.
Embora as medidas de repressão sejam centrais, a apuração indica que o enfrentamento desse tipo de crime exige vigilância contínua do setor público e privado. A atuação integrada — já praticada na operação pela PCPR com apoio de outras polícias civis estaduais — é um elemento explícito da estratégia investigativa. Ao mesmo tempo, o relato sobre o uso de empresas de fachada e plataformas digitais para captar vítimas sugere a necessidade de maior atenção por parte de empresas e consumidores na verificação da origem de ofertas de consórcios e financiamentos.
Em Fortaleza, onde o cumprimento de mandados foi confirmado, o episódio reforça a fragilidade que fraudes desse porte podem provocar na percepção do comércio local: clientes enganados não apenas perdem recursos, mas tendem a desconfiar de ofertas legítimas, o que pode afetar vendas e relações de crédito. A investigação da PCPR, portanto, não aponta apenas para a responsabilização dos envolvidos, mas também para o desafio de resguardar a credibilidade do mercado diante de esquemas financeiros sofisticados.
Até o momento, as informações divulgadas publicamente sobre a operação e o esquema vêm da Polícia Civil do Paraná e das declarações do delegado Tiago Dantas, que coordena o inquérito. A apuração segue em curso, com diligências que buscam aprofundar a identificação de responsáveis e a recuperação de ativos relacionados às transações suspeitas.