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Operações contra o tráfico em Montes Claros atingem bairros comerciais e colocam pressão sobre ambiente de negócios

19 de ago. de 2025google
Segurança pública e comércio local em Montes Claros

Operações contra o tráfico em Montes Claros atingem bairros comerciais e colocam pressão sobre ambiente de negócios

Prisões e apreensões ocorreram em áreas apontadas pela polícia como pontos de tráfico; cenário convive com abertura de empresas e anúncio de grande investimento

Nas últimas semanas, operações da Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG) em Montes Claros resultaram em prisões e apreensões de entorpecentes e armas em locais que, segundo os próprios relatos das ações, eram usados para o comércio de drogas e apresentavam intensa circulação de pessoas.

Em uma incursão no bairro Conferência Cristo Rei, a PMMG deteve três suspeitos e apreendeu, dentro de uma pochete descartada pelos fugitivos, 17 papelotes com substância semelhante à cocaína, 17 buchas de maconha do tipo skunk, 27 pedras de crack e R$ 516,65 em dinheiro trocado; dois adolescentes de 16 e 17 anos receberam atendimento no Hospital Alpheu de Quadros, conforme o registro policial. Ainda segundo a corporação, o imóvel usado como rota de fuga e ponto de venda estava abandonado e servia para a circulação dos suspeitos.

Em outra ação, no bairro Doutor João Alves, militares do Grupamento Especializado em Recobrimento (GER) e da Rondas Ostensivas com Cães (ROCCA) apreenderam 79 pedras de crack e um revólver calibre .22 após abordagem em uma área de mata na Avenida das Américas, local que a PM descreveu como já conhecido como ponto de tráfico. A cadela de faro Athena participou das buscas e localizou parte do material escondido entre entulhos.

Na madrugada de outra operação, também na região do Doutor João Alves, um homem de 24 anos foi preso na Avenida Deputado Plínio Ribeiro com 34 pedras semelhantes a crack e pequenas quantias em dinheiro; buscas nas imediações localizaram ainda tabletes e buchas de maconha. Em relatado em diferentes ocorrências, testemunhas informaram que, em ao menos um caso, um suspeito ferido retornou a um restaurante na rua Cachoeirinha, sugerindo que confrontos e abordagens chegam a locais de comércio e circulação de clientes.

Os registros da PMMG mostram padrões recorrentes: pontos em áreas de mata ou imóveis abandonados usados como bases de venda, intensa circulação de usuários e a necessidade de apoio especializado (GER, ROCCA) para apreensão e captura. Esses eventos, narrados pelas corporações envolvidas, colocam a polícia em atuação ostensiva em áreas que se sobrepõem a trajetos e ícones do comércio local.

Ao mesmo tempo, dados oficiais e anúncios empresariais apontam para um cenário de dinamismo econômico na cidade. A Junta Comercial do Estado de Minas Gerais (Jucemg) registrou, no primeiro semestre de 2025, a formalização de milhares de novos empreendimentos em Minas Gerais; no ranking municipal, Montes Claros figurou com 261 aberturas em julho e 1.558 no acumulado do ano, sinalizando movimento empreendedor na cidade.

Além disso, a cidade recebeu a notícia de um aporte privado de grande porte: a empresa Novo Nordisk anunciou investimento de cerca de R$ 500 milhões para ampliação da produção em sua planta em Montes Claros, segundo divulgação do anúncio do aporte. Essa decisão empresarial coloca em relevo a importância de uma agenda de segurança que dê previsibilidade a operações industriais e à cadeia de fornecedores locais.

Organizações e eventos locais também mostram iniciativas para fortalecer o comércio: a Associação Comercial, Industrial e de Serviços de Montes Claros (ACI) promove ações como a Rodada de Negócios da FENICS para aproximar fornecedores locais de grandes compradores, enquanto redes de franquia e expansão, como a Barbearia VIP, citam Montes Claros entre municípios com potencial de mercado, conforme suas análises empresariais.

Do lado das oportunidades de consumo, sindicatos e entidades do setor apontam que eventos culturais centralizados, como as Festas de Agosto, geram aumento de movimento no comércio e na gastronomia — o Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares (SECHONORTE) estimou elevações de 10% a 15% em bares, restaurantes e hotéis nas áreas por onde passam os cortejos. Esse efeito, porém, ocorre principalmente nas áreas centrais, enquanto as operações policiais citadas se concentraram em bairros específicos como Doutor João Alves e Conferência Cristo Rei, segundo os relatórios das ações policiais.

Nas matérias e notas consultadas não há levantamento quantificado sobre os custos indiretos atribuíveis às operações e ao tráfico — como queda de fluxo de clientes, necessidade de contratação de segurança privada ou perda de estoque — nem depoimentos de comerciantes diretamente impactados por estas ações. Também não foram apresentados, nos textos disponíveis, relatórios oficiais que correlacionem apreensões com variações no movimento comercial dessas micro‑áreas.

Em contraste, há indicativos de que órgãos públicos e regionais discutem temas ligados ao consumo de drogas e atenção à saúde mental: a Superintendência Regional de Saúde (SRS) de Diamantina realizou reunião do Colegiado Gestor de Saúde Mental, Álcool e outras Drogas para debater estratégias de fortalecimento da Rede de Atenção Psicossocial, demonstrando que políticas de prevenção e cuidado estão em pauta na macrorregião.

O mosaico de informações coletadas — operações policiais em pontos de tráfico nas imediações de comércio, crescimento de aberturas de empresas e anúncio de investimento industrial — evidencia uma tensão prática: ações de repressão são necessárias para enfraquecer redes de tráfico, mas sua ocorrência em áreas próximas a estabelecimentos comerciais impõe impactos locais nem sempre mensurados publicamente. As fontes consultadas (PMMG; GER e ROCCA; Hospital Alpheu de Quadros; Jucemg; Novo Nordisk; ACI; SECHONORTE; Barbearia VIP; e a SRS) mostram, de forma fragmentada, tanto medidas de enfrentamento quanto sinais de dinamismo econômico.

Para um diagnóstico mais preciso sobre como apreensões e operações alteram o ambiente de negócios em Montes Claros seriam necessários estudos ou levantamentos que cruzem dados policiais com indicadores de fluxo de clientes, vendas, sinistros em estabelecimentos e custos com segurança privada, além de relatos e reclamações formais de comerciantes — elementos que não constam nas matérias e notas reunidas para esta reportagem.

Enquanto isso, a cidade permanece no centro de duas realidades simultâneas: a de ações policiais direcionadas a pontos de venda de drogas, com apreensões relevantes de entorpecentes e armas, e a de um mercado atraente para novos empreendimentos e investimentos de grande porte. A articulação explícita entre segurança pública, políticas de prevenção social e programas de retomada de áreas por meio do comércio formal não foi detalhada nas fontes consultadas, o que indica espaço para diálogo entre autoridades, entidades de classe e comerciantes sobre medidas integradas que acomodem repressão ao crime e proteção do ambiente de negócios.