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Brandão revoga decreto que determinava retorno imediato de servidores cedidos no Maranhão

21 de ago. de 2025google
Revogação do decreto sobre servidores cedidos no Maranhão

Brandão revoga decreto que determinava retorno imediato de servidores cedidos no Maranhão

O governador do Maranhão, Carlos Brandão (PSB), revogou em 16 de agosto o decreto estadual nº 40.286/2025 — publicado no dia 15 — que obrigava o retorno imediato, aos seus cargos de origem, de servidores estaduais cedidos a outras instituições. A revogação foi formalizada no decreto nº 40.287/2025 e, segundo o próprio governador, ocorreu depois de o governo avaliar que a norma teria alcance excessivo e causaria transtornos operacionais a outros poderes e órgãos.

Em entrevista ao g1, Brandão explicou que a motivação original do decreto era administrativa: um recadastramento que teria identificado pagamentos indevidos a servidores já falecidos. O governador afirmou que houve casos em que cartões continuaram sendo utilizados por familiares após o óbito e que, nesse processo, o Banco do Brasil estaria devolvendo valores ao erário. Segundo Brandão, a sugestão de editar um decreto geral partiu do secretário de Administração e foi tomada “na pressa”.

O recuo, conforme o governador, foi resultado de alertas de outras autoridades. Brandão disse ter recebido ligações da presidente da Assembleia Legislativa e de representantes de outros poderes, que apontaram que a determinação abrangeria grupos numerosos, incluindo policiais militares e membros de forças que estão cedidos a tribunais, ao Ministério Público e ao Tribunal de Contas. O próprio governador mencionou a existência de mais de 700 policiais militares cedidos a diferentes órgãos como exemplo do potencial impacto operacional.

O episódio também tocou em episódios de caráter político-institucional. Entre os servidores que estariam afetados pelo decreto original, o g1 citou os procuradores do Estado Túlio Simões e Lucas Pereira, cedidos como assessores ao Supremo Tribunal Federal. Em março, o então Procurador-Geral do Maranhão, Valdênio Caminha, acusou os dois de acesso irregular ao Sistema Eletrônico de Informações (SEI) da Procuradoria, mesmo estando cedidos, e pediu investigação ao STF e à Procuradoria-Geral da República. Brandão negou que o decreto tivesse relação com esse caso e afirmou que a revogação foi motivada apenas por razões administrativas e logísticas.

Ao justificar a revogação, o governador afirmou que a medida precisava ser reposicionada para evitar “um transtorno grande” — tanto por abrigar servidores que já residem em outros estados quanto pela grande dispersão de lotações e vínculos. Brandão afirmou que, apesar do recuo, o chamamento dos cedidos ao quadro de origem ocorrerá de forma escalonada: “vamos fazer, mas por partes”, disse, com o objetivo declarado de concluir o recadastramento e impedir pagamentos indevidos.

Do ponto de vista operacional, o governo reconhece desafios logísticos explícitos: servidores espalhados por municípios, unidades federais e tribunais, além de casos de cessões de militares a órgãos do Judiciário e da Assembleia. Essas características foram citadas pelo próprio governador como razões para evitar uma convocação em massa, que poderia comprometer serviços nas instituições receptoras e gerar deslocamentos e lotações abruptas. A possibilidade de impacto em prefeituras, tribunais e no Ministério Público foi mencionada como motivo de preocupação por interlocutores do Executivo estadual.

Quanto ao risco político e institucional, o caso expõe divergências de interpretação. Para Brandão, a ação tinha caráter estritamente administrativo — recadastrar servidores e interromper pagamentos a falecidos — e a ligação com episódios envolvendo procuradores cedidos ao STF foi descartada pelo governador. Por outro lado, a existência de denúncias formais do então Procurador-Geral Valdênio Caminha sobre acesso ao SEI por procuradores cedidos e o fato de que autoridades de outros poderes consideraram a medida potencialmente danosa mostram que a revogação também atende a um componente de contenção de conflitos institucionais.

Pelo que foi declarado à imprensa, o plano do Executivo agora é avançar com o recadastramento e eventuais convocações de servidores cedidos por etapas, para reduzir o impacto administrativo e político. Permanecem, contudo, questões pendentes: a extensão precisa das correções adotadas pelo Banco do Brasil em relação aos pagamentos identificados, o cronograma detalhado das chamadas parciais anunciadas pelo governo e o desfecho das investigações requisitadas sobre o acesso ao SEI — todas citadas na cobertura do g1.

O episódio evidencia a tensão entre a necessidade administrativa de atualização de cadastro e contenção de irregularidades financeiras e os efeitos práticos e políticos de decisões que atinjam setores sensíveis, como segurança pública, Poderes e órgãos que dependem de servidores cedidos.