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Montadoras chinesas investem mais no exterior do que em casa pela primeira vez; Brasil vira palco e experimento

21 de ago. de 2025google
Estratégia global das montadoras chinesas e impactos no Brasil

Montadoras chinesas investem mais no exterior do que em casa pela primeira vez

Um relatório de pesquisa citado pela Rhodium Group mostra uma mudança inédita na estratégia das grandes empresas automotivas chinesas: em 2024, os investimentos destinados ao mercado externo chegaram a US$ 16 bilhões, superando os US$ 15 bilhões aplicados no território chinês. Segundo o documento e o analista Armand Meyer, esse movimento reflete um mercado interno saturado, excesso de capacidade e uma guerra de preços que comprimiram margens e tornaram a expansão internacional mais atraente.

O relatório destaca que cerca de três quartos dos recursos exteriores se concentraram na produção de baterias. Fabricantes como CATL, Envision e Gotion são citados entre os que seguem os principais clientes — por exemplo, Tesla e BMW — para reduzir custos logísticos e cumprir exigências de conteúdo local nos mercados-alvo. A CATL, uma das maiores produtoras globais de baterias, declarou em junho que a expansão internacional passou a ser sua "prioridade número 1", conforme registrado no levantamento.

Para escapar de tarifas punitivas impostas por blocos como a União Europeia e pelos Estados Unidos, muitas empresas optam por instalar fábricas diretamente nos mercados consumidores. O relatório registra que essa estratégia se materializou também no Brasil, com a chegada de projetos industriais citados como exemplos: a fábrica da BYD em Camaçari (BA) e a da GWM em Iracemápolis (SP).

Ao mesmo tempo, o relatório e a reportagem que o sumariza alertam para os limites e riscos desse caminho. Projetos internacionais costumam ser mais caros, exigem prazos maiores e enfrentam riscos regulatórios e políticos adicionais. Os dados apresentados mostram que apenas 25% dos projetos anunciados no exterior foram concluídos, ante 45% dos projetos realizados dentro da China. Casos específicos reforçam essa tensão: a BYD suspendeu indefinidamente planos para uma grande fábrica no México, mencionando incertezas nas políticas comerciais dos EUA, e a fabricante de baterias Svolt Energy cancelou cerca de 99% de seus projetos internacionais.

Para o Brasil, o padrão identificado no relatório significa duas coisas que aparecem de forma explícita na análise: por um lado, há exemplos concretos de atração de produção local — as plantas da BYD e da GWM — que ilustram a opção por fabricar próximo ao cliente para reduzir custos logísticos e atender regras de conteúdo local; por outro, persistem riscos associados à complexidade e ao custo de projetos externos, além da vulnerabilidade a tensões políticas e comerciais que já levaram a suspensões e cancelamentos em outros mercados.

O relatório da Rhodium Group, citado na matéria, indica que essa nova estratégia chinesa é resultado direto da saturação do mercado doméstico e da busca por retornos superiores. Ainda que a internacionalização possa ampliar a presença de fornecedores chineses em cadeias produtivas locais, o histórico de baixas taxas de conclusão de projetos fora da China e episódios de interrupção deixam claro que a expansão traz incertezas que governos e indústria nacional precisarão considerar ao formular políticas industriais, regras de conteúdo local e incentivos para atrair agregação de valor.

Os números e exemplos citados acima são os destacados no relatório da Rhodium Group e na reportagem que sintetiza esse estudo; declarações de empresas como a CATL e casos de projetos como os da BYD, GWM e Svolt constam do mesmo levantamento.